A gente passa por cada uma nessa vida,
era segunda-feira eu
estava indo para o trabalho quando algo inusitado aconteceu no meu trajeto, eu
sempre fazia o mesmo caminho, não sei o que me deu!
Como
todo brasileiro eu acordei uma hora mais cedo, acabou o horário de verão e eu
nem notei, minha mulher também, ela ficou na cama dormindo, não gosto de
acordá-la, assim preparei o café e nem me despedi de meus dois filhos. Parece
que quando a gente assiste muito programa com reportagem policial a coisa fica
esquisita, tudo fica com cara de crime e o cemitério é o local onde tudo acaba.
Vocês
devem estar mortos de curiosidade pra saber o que aconteceu, não é? Pois bem,
vou contar o ocorrido. O meu ponto de onibus fica em frente ao cemitério,
quando percebi que estava adiantado, fui até uma das portas do velório e
começei a assistir a cerimônia regada a lágrimas de um indivíduo que eu nem
conhecia. De repente um cidadão corpulento me pegou e levantou pelo colarinho,
senti que estava morrendo enforcado, o nome dele era “Jamanta”. Aos berros ele
falou:
-
Moacir, você tem coragem de vir no enterro do Sandoval? Seu peste, vou acabar
com você na porrada!
Nesse
momento juro que fiquei apavorado, logo outro cidadão distinto começou a me dar
um tratamento vip, ele pegou no meu cabelo e suspendeu, minha sorte é ser
careca. Esse relativo defeito me salvou na hora da morte. A minha morte, não a
do defunto.
Uma tal
de Onofrina, isso é nome de gente? É sim, e gente fina demais, ela disse:
-
Gente, esse homem não é o Moacir, O Moacir não era careca!
-
Obrigado dona – agradeci – A senhora me salvou, eu sou o Guilherme vieira,
esposo da Marly e pai do Matheus e da Flora.
- Não
precisa falar nada não.
Nesse
momento eu já tinha posto a peruca e a mulher do presunto me agarrou e disse:
-
Moacir seu cachorro, agora ninguém nos separa mais!
Enquanto
todo o rolo era desfeito a mulher estava numa sala e não tinha visto nada, eu
disse pra ela que era engano, mas a infeliz me agarrava sem parar, quando
consegui me soltar, uma mulher fofoqueira, minha vizinha viu a cena, ai tudo
foi por água abaixo. Quem acreditaria numa história destas?
Tive
que tirar a peruca de novo e tudo parecia estar esclarecido. Saí daquele
velório o mais rápido possível e segui para o meu trabalho. No ônibus um senhor
bateu nas minhas costas e exclamou:
-
Moacir, seu cachorrão!
- Eu
não sou o mooaaaaacirrrrr! – Gritei! – eu sou careca, caramba!!!!
Trabalhei
o dia todo contrariado. Minha mulher não sabe o porquê de eu não tomar mais ônibus
no ponto em frente ao cemitério, esse é um segredo de morte. A vizinha que viu
tudo se mudou semana passada, ela foi para o nordeste.
Um dia
a Marly soube de tudo, eu não deveria ter contado nada, de vez em quando ela me
chama de Moacir.
Haroldo Ribeiro
imagem: suza.com
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